Ai, quem me dera ser Famoso!

Sempre que vejo uma revista cor-de-rosa, numa passagem simples, sim, porque eu não leio essas coisas (!), ou assisto a alguns programas de televisão, fico logo deprimido.
Que vida triste, cinzenta, monótona e pobrezinha que eu tenho.

Eles/elas são giros, têm tudo, o mundo do glamour parece que foi feito para eles.
Como eleitos que foram, foi-lhes dado de bandeja tudo o que de bom a vida tem, pelo menos na sua palavras.
Eu, "feio, pobre, porco e mau" tenho o que mereço, uma vidinha estúpida.
Não porque o destino quis, mas porque eu nada fiz, afinal não me tratei para ser belo, não me cultivei para ser inteligente, não me esforcei para ter talento, nem domestiquei este meu coração para ser bonzinho, muito bonzinho.


Com este post vou ter as minhas 15 linhas de fama, por uns instantes curtos deixei de ser um VAU (Very Anonymus User), e por isso, resolvi fazer este exercício comparativo, porque é que eu gostava de ser realmente famoso.

Só assim posso ver como miserável é a minha vida comparada com a elite famosa.
Agora que eu já tive o niquinho dela, sei do que falo!

A encarnado sou eu
A azul o famoso

EU E OUTROS QUE TAIS

Tempo

O tempo para mim passa.
Cada vez que me olho no espelho vejo que já lá estão mais uns dias, mais uns meses, mais uns anitos.
Ainda por cima não tenho luzes bem direccionadas que me escondam as marcas do tempo.
Nem ao menos uma maquilhagenzita, que isto do metrosexual ainda não percebi muito bem.

Tempo

O tempo não passa, cristalizam numa determinada época.
Os cabelos têm sempre a mesma cor, não rareiam, e não há vento que estrague o penteado.
Há inclusive um fenómeno, a ser estudado pelos mais altos cientistas, que é, as senhoras vão ficando cada vez mais loiras.
Deve ser uma questão hormonal dos famosos.
A pele está sempre esticada, a lembrar a juventude.
Claro, que quando, por vezes, há uma recaída, depressa voltam a ficar esticadas, não se sabe bem porquê, outro fenómeno a estudar.
Além disso têm luzes sempre no ponto exacto para não ficarem mal.
A Catherine Deneuve antes de ir a uma festa manda um assistente ver como é o ambiente de luzes.

A comida

A comida conjugada com o facto tempo é fatal.
Tudo nos engorda.
A partir de uma certa altura, até aparece que tudo nos faz mal.
Mas o pior é que tudo nos apetece.
Sabemos que não podemos comer de tudo, mas acabamos por fazê-lo porque não há tempo para grandes dietas.
Quando comemos fora, comemos porcarias e coisas boas, em restaurantes de todo o tipo.
A probabilidade de encontrar um mau restaurante ou uma má comida é bastante grande.

A comida

A comida além de ser excelente nunca lhe faz mal, nem engorda. “Como de tudo” é sempre a frase mais ouvida.
Dietas é coisa de amigas e amigos invejosos que não se sabem cuidar e que têm corpos adiposos, tipo povo.
Nunca ninguém confessa que só comem uma salada, ou melhor, confessam, mas não porque não possam comer, mas sim porque é mais saudável.
Além disso comem sempre coisas excelentes e nos melhores restaurantes.
Nunca frequentam um restaurante mau, nem sabe onde ficam.
Deve ser uma questão de GPS.

A roupa

A roupa que visto é banal.
Lá tenho uma peça ou outra mais cara, mais de marca, mas o trivial é aquilo que toda a gente veste, dentro do meu gosto, dentro de uma linha confortável.
Se não me ponho a pau quando vou a uma seminário parece que saímos todas de uma irmandade, com chapa quinze do fatinho cinza escuro.
Mesmo que quisesse vestir uma coisa assim completamente fashion quase que nem saberia onde a encontrar.
Devem ser uma espécie de lojas ocultas.

A roupa

A roupa que vestem é sempre especial.
Nunca pensam se é prática ou não.
Quanto mais arrojada melhor.
Desde o ir comprar o pão na esquina, até ler um livro no parque, há sempre uma griff muito especial a envolvê-las/os.
É como se vivessem numa eterna passerelle.
Tenho até uma teoria, os estilistas só trabalham para este tipo de pessoas, uma espécie de sociedade secreta, em que produzem determinadas peças.

A casa

A casa em que habito, apesar de ter móveis modernos e tal, parece-me bastante banal, sem estilo para que possa aparecer numa revista qualquer.
Já para não falar dos objectos desarrumados, que por muito que se tente, nunca conseguem ir para o lugar.
Há, assim, uma espécie de energia (des)estática que os afasta do seu devido lugar.

A casa

As suas casas parecem ser sempre tiradas de uma qualquer revista de decoração.
Mesmo num qualquer pardieiro num bairro degradado, eles têm um cantinho muito especial.
Uma também sociedade secreta de decoradores deve ir lá e fazer de 2 ou 3 objectos uma instalação digna de figurar num Guggenhei qualquer.

O trabalho

O meu trabalho tem coisas boas e coisas más.
Os projectos não andam como se quer e é uma luta constante para conseguir alcançar os objectivos.
Nada me cai do céu.

O trabalho

O trabalho é sempre super interessante.
Cada projecto que abraçam é mais interessante do que outro.
Têm sempre imensas coisas para fazer, sempre projectos em carteira que ainda não podem falar.

Colegas

Tenho Colegas de todos os tamanhos e feitios.
Uns são bons profissionais, outros não.
Eles provavelmente devem achar o mesmo de mim.
Uns gostam de mim outros não.

Colegas

Têm sempre Colegas do melhor que há.
Desfazem-se sempre em elogios.
É uma honra trabalhar com eles.
Nunca há mesquinhez, nem o pôr o pé à frente de alguém quando desce a escada.
Uma camaradagem excepcional.

Pausa

Por vezes apetece-me fazer uma Pausa, no trabalho, nas coisas rotineiras da vida.
Parar durante uns tempos, reflectir, descansar, encontrar novos projectos.
Apetece-me.
Tenho responsabilidades, logo o máximo que consigo fazer é tirar umas férias antecipadas.

Pausa

A Pausa é uma das palavras que mais evocam entre trabalhos.
Por um cansaço, por uma necessidade de reflexão, sentem uma vontade de parar e estão 1 ano, 2, 3 ou mais, sem fazer nada, a tentar-se encontrar.
Fazem umas viagens, comparecem nuns eventos e voltam cheio de forças para abraçar um novo projecto, ou coisa parecida.

Pontualidade

Tenho a mania da Pontualidade.
Claro que isso sai-me do corpo, ando sempre acelerado para cumprir os horários.

Pontualidade

Pontualidade, o que é isso?
É algum novo designer?
Por amor de Deus é super chique, super bem, chegar atrasado.
Só os parolos chegam a tempo.

Cultura

Tenho uma cultura mediana, ou talvez até acima da média, na opinião de alguns.
No entanto, há tanta coisa que não sei nem consigo falar.
Outras há, que quando falo, apenas digo que gostei e pouco mais, porque estou a tomar contacto pela primeira vez.

Cultura

Têm todos uma excelente cultura.
Sabem de tudo, falam de tudo.
Não importa se é um Frank Lloyd Wright ou se um Tolouse Lautrec, que há que falar.
Avia-se ali já uma opinião sobre a obra, como se comessem todos os dias o pequeno-almoço a olhar para ela.
E claro, convém também não esquecer os bons livros, grossos se possível, e de autores com nomes difíceis de escrever.

Solidariedade

Relativamente à Solidariedade, sinto-me sempre um pouco culpado, por não fazer tanto quanto devia.
Por uma questão de tempo, por factores económicos, acabo por apenas fazer o trivial, uma ajuda no supermercado para o banco alimentar, um donativo avulso e pouco mais.
Enfim, uma má prestação.
Não serei uma má pessoa, mas boa também não.

Solidariedade

Na Solidariedade estão em todas.
Eles são tão amigos dos pobrezinhos, dos deserdados, dos sofredores de doenças, das vitimas de catástrofes e por aí fora.
É vê-los de copo na mão, croquete na outra, a derreterem o seu coração em eventos de solidariedade, especialmente se tiverem grandes festas, concertos ou forte presença de ainda mais famosos.
São tão bonzinhos quando comparados comigo.
Eu sei que não tenho lá as objectivas, nem o caviar ou croquete quando sou um pouquinho bom, mas mesmo assim eles são super hiper mega solidários.

Estado

Espero do Estado que me venha cobrar os impostos e que me pague o que me deve, quando caso disso.
Não gosto que ele se lembre muito de mim.
Sobre aquilo que faço não espero que ele me venha apoiar, a menos que seja um trabalho para ele próprio.

Estado

Dizem sempre mal do Estado, por não responder a isto ou aquilo, por ser uma máquina complexa.
No entanto, acham sempre, que o Estado tem que apoiar os seus projectos, as causas, dar um subsídios, fazer muito mais pelas linhas que eles, e não o Estado, que traçaram.

Amores

Os meus Amores crescem e morrem, no ciclo normal das paixões, umas vezes só, outras vezes mais compartilhados.
Quando nascem são amores simples, quando se desenvolvem são amores fortes integrados na minha vivência, quando morrem é um processo doloroso, com muitas sombras do passado, que não gosto muito de repor noutros estados.

Amores

Os Amores deles são sempre divididos em 3 blocos.
Primeiro são simplesmente amigos.
Já mostraram a toda a gente que andam enrolados, mas são amigos.
Depois são o grande amor da vida, aquela pessoa que nunca encontraram, o amor único que mais ninguém tem.
Quando as coisas ficam mal, ainda estão muito bem, é tudo boatos.
Por último, já acabaram e voltam a ser somente amigos.

Dinheiro

Sempre que vou a qualquer evento Evento por muito simples que seja, cinema, teatro, exposição, etc, tenho que abrir os cordões à bolsa, nunca me convidam.
Se estou mal de finanças não vou.
Até nos Restaurantes, se não tiver reserva ou lugar, bem que dou com o nariz na porta e volto para trás.
Já para não falar da minha conta, que nunca esquecem de registar uma azeitona que seja.

Dinheiro

Podem ter muito dinheiro, mas sempre que vão a qualquer Evento vão sempre como convidados, ou seja, à borla.
Mesmo que seja de solidariedade, há sempre um convite para entrar, os mais anónimos, que paguem a solidariedade.
Claro que estou a falar dos AQE (Anónimos Quase Elite), que o povão, os AZP (Anónimo Zé Povo) não têm lá cabidela.
Vão depois às sessões normais, que foi para isso que elas se fizeram.
Nos Restaurantes é vê-los entrar sem marcação, sem nada, mesmo com o local cheio.
E a conta tem sempre uma surpresa, oferta da casa!

Coscuvilhice

Todos nós temos a nossa coscuvilhice contada em cafés, nos almoços, sempre em tom baixo para que não se arme grande escabeche.
Se não gostamos de ser falados também não falamos dos outros, embora seja difícil de manter este princípio.

Coscuvilhice

Com eles a Coscuvilhice além de sair nas revistas, tem direito a programas de televisão, onde se comentam uns aos outros.
É assim como uma espécie de piranha que come o seu próprio rabo.
Claro, que depois, ao serem questionados, dizem sempre que é a sua vida privada, que se querem resguardar, ainda que tenham, dias antes, aparecido numa sessão de fotos a rolar na cama do seu quarto, com o tal amor da sua vida.

Pronto sou eu assim, desnudo face ao brilho glamouroso dos VIP.
Já não quero ser como a canção do Chico:
Ai quem de dera ser doutor
Diplomado em Salvador

Mas sim:
Quero mesmo é ser Famoso
Ter um look airoso
Passadeira vermelha à entrada
A minha vida comentada
Só conhecer gente elegante
Para me sentir ainda mais radiante
E poder assim dizer
Como é belo o meu Viver!

No fundo sou é um grande invejoso. Isso é que sou!